quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Um Líder Furado

Mesmo correndo o risco de cair em algum exagero, fiz o exercício de contar os erros de arbitragem ou lances duvidosos envolvendo o actual líder do campeonato. A lista, que vai até à jornada do passado fim-de-semana, ficou assim.

Jornada 2: Boavista-Benfica
- Golo anulado ao Boavista, por pretenso fora-de-jogo muito duvidoso, que daria o empate.

Jornada 4: V. Setúbal - Benfica
- Jogada de golo iminente mal anulada ao Vitória. Giovanni Rosa estava em jogo e em condições para fazer, na altura, o empate. O resultado acabaria por ser de 0-5.
- Penalty de Samaris sobre Zequinha,  já com o resultado feito.

Jornada 5: Benfica – Moreirense
- Ainda na primeira parte, Enzo Perez acerta com os pitons no peito da Alex, numa entrada bastante violenta. O cartão vermelho não foi mostrado
- No lance do segundo golo do Benfica, existem dois jogadores do Moreirense abalroados na área. Um deles atrapalha a acção do guarda-redes, ficando Maxi Pereira com a baliza escancarada.
- Terceiro golo do Benfica, de penalty inexistente. Simulação de Lima.

Jornada 6: Estoril- Benfica
- Falta (?) de Luisão na jogada que originou o 1-0, de Talisca? Lance duvidoso
-  Penalty de Jardel sobre Kleber aos 11`
- Enzo Perez, no chão, pontapeia Kleber na canela e é poupado ao 2º amarelo. Aos 48`
-  Aos 66`, segundo cartão amarelo a Cabrera (Estoril) por falta inexistente sobre Enzo Perez.

Jornada 7: Benfica- Arouca
- Aos 24`, penalty de Maxi Pereira sobre André Claro, não assinalado.
- Entrada dura de Samaris sobre David Simão. O árbitro fica-se pelo cartão amarelo, numa jogada que precedeu o primeiro golo.

Jornada 8: Braga – Benfica
- Penalty de Eliseu sobre Pardo, não assinalado. 33`

Jornada 9: Benfica – Rio Ave
- Golo anulado ao Rio Ave, que daria o empate, por alegado fora de jogo milimétrico. De referir que o auxiliar que levantou a bandeira não estava enquadrado com o lance e apenas reage quando a bola entra na baliza.

Jornada 10: Nacional – Benfica
69´. Lance de golo anulado ao Nacional por fora de jogo inexistente. Marco Matias ficava na cara de Júlio César, em condições para fazer o empate.

Jornada 11: Académica- Benfica
- Segundo golo do Benfica marcado em fora-de-jogo claríssimo. Mais uma vez uma vez o auxiliar do árbitro principal a beneficiar escandalosamente o Benfica, algo que já tinha acontecido nas duas jornadas anteriores.

Jornada 12: Benfica- Belenenses
- Segundo golo do Benfica, de penalty inexistente. Simulação de Enzo Perez.

Dos 12 jogos realizados até ao momento, apenas em dois (!!!) não existiram lances duvidosos/erros flagrantes favor do Benfica. E de todas as vitórias dos encarnados, apenas uma está fora da lista, a da 1ª jornada, frente ao Paços de Ferreira.

Não quer dizer que não ganhassem a maioria dos jogos. Eu até estou em querer que sim, dadas as diferenças de potencial entre as equipas, no entanto a incerteza ficará sempre no ar. São muitos erros, muitas dúvidas, em jornadas consecutivas, sempre a favor da mesma equipa


Nota 1: No jogo Benfica- Belenenses, a equipa visitante viu-se obrigada a deixar de fora os dois melhores marcadores da equipa no campeonato (Miguel Rosa e Deyverson) por influência do clube adversário, numa situação clara de ingerência e punida por lei (artigo 65 do Regulamento Disciplinar da LPFP; artigo 18bis do Regulamento FIFA sobre o Status e Transferências de Jogadores.)
Referir que, dos 5 jogadores desta equipa sobre os quais o Benfica garantiu o “direito de preferência”, apenas jogaram de início dois jogadores: o guarda-redes Matt Jones, (totalista absoluto na Liga cuja ausência daria ainda mais nas vistas) e Freddy. Sturgeon e Tiago Silva começaram o jogo no banco, Filipe Ferreira, à data do jogo, era, alegadamente, um lesionado de longa duração.

Nota 2: Não é estranho o silêncio dos treinadores e jogadores adversários após situações nas quais o seu desempenho é claramente prejudicado? E a comunicação social no geral, sempre com uma postura proteccionista do Benfica e procurando relativizar situações flagrantes que beneficiam este mesmo clube? Quem lê os diários desportivos, fica com a sensação de que o futebol português é um mar de rosas. Investigação? Falar dos (muitos) podres? Muito pouco!

A Comunicação Social é tida como o 4º poder. Qualquer associação, desde partidos políticos a clubes de futebol deseja, naturalmente, ter boa imprensa. A coligação SLB/FCP (ou Santa Aliança, como preferirem) tem sabido muito bem manobrar os media, conseguindo desviar atenções, espalhar inverdades e descredibilizar opositores. A propósito, este assunto daria um bom post…


Concluíndo: neste campeonato é possível descortinar três situações flagrantes, em benefício do mesmo clube:

- Arbitragens altamente suspeitas

- Situações de ingerência em adversários

- Controlo dos media e outros elementos

Será justo dizer que a transparência da I Liga portuguesa está ao nível da situação política na Coreia do Norte ou na Eritreia.


Foi nisto que transformaram o nosso futebol.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Os Furos do Jogo

No passado fim-de-semana, o futebol português foi confrontado com mais uma situação grave, que voltou a colocar em causa a sua credibilidade.

Como é sabido, o Belenenses deslocou-se ao estádio da Luz e, durante a semana, foi badalada a possibilidade dos dois principais jogadores da equipa do Restelo – Miguel Rosa e Deyverson – poderem falhar a partida por influência do antigo clube, adversário naquela jornada.  De referir que os dois jogadores alegadamente já não terão qualquer ligação ao clube em questão, excepção feita a um mero “direito de preferência”. No entanto, a suspeita tinha razão de ser, uma vez que já na temporada transacta eles tinham sido impedidos de alinhar devido a um acordo de “cavalheiros” (as aspas na palavra cavalheiros não são gralha), daqueles que não são contratualizados por serem contra os regulamentos, mas são feitos por debaixo da mesa e, pelos vistos, contam. 
Na altura, o então treinador azul Marco Paulo aludiu a “questões administrativas” na base da situação.

Durante a semana, treinaram normalmente, não tendo sido incluídos em nenhum boletim clínico. No dia do jogo, integraram a comitiva que se deslocou ao estádio. Porém, pouco antes do apito inicial, surgiu a notícia já esperada… os jogadores, titulares absolutos e obreiros da esmagadora maioria dos golos da sua equipa no campeonato – valeram, relembre-se, um empate em Alvalade – não constavam do 11 inicial nem tampouco se sentavam no banco.

Por mais rebuscadas que sejam as desculpas do accionista maioritário do Belenenses, Rui Pedro Soares (que merecerão post à parte), a verdade é que ninguém com dois palmos de testa acredita que a exclusão terá partido única e exclusivamente do clube ao qual estão vinculados. Porque tal não faria sentido, porque se os protagonistas confessassem, abririam portas a que houvesse efectivamente penalizações.

Assim será tudo empurrado para debaixo do tapete, sendo mais que espectável que a liga de Duque se demita das responsabilidades, numa situação originada por um dos maiores promotores da sua existência.

Mais uma golpada na tão clamada verdade desportiva (LF Vieira, lembras-te?), mais um atentado ao futebol e mais uma prova de que, por cá, os jogos de futebol não se ganham apenas em campo.
E digo mais uma, porque situações dúbias envolvendo clubes e agentes desportivos é algo que não têm faltado nos últimos anos . Só assim de memória, deixo aqui alguns exemplos, que todos juntos, estão por detrás da criação deste blog:

- Um ror de situações em que jogadores emprestados se constipam ou se lesionam misteriosamente no dia ou dias antes de defrontarem os clubes aos quais estão vinculados. 
 Exemplo: Abdoulaye.

Aqui, pior que não assumir, é enganar tudo e todos, tomando-nos por parvos.

- Arbitragens que, semana após semana, são sempre favoráveis aos mesmos clubes, incluindo critérios diferentes em lances de natureza semelhante, conforme as equipas. Exemplo aqui é aquilo que tem acontecido ao actual líder do campeonato, em lances de fora-de-jogo, cujo critério é claramente em seu benefício e prejuízo dos adversários. OK, eu sei que são árbitros diferentes, mas mesmo assim são demasiados erros a favor da mesma equipa, em jogos consecutivos e ainda só estamos em Dezembro.

De notar que o facto dos relatórios dos observadores não serem públicos e de não se saber ao certo quais os critérios, normas e procedimentos que vigoram nas cúpulas da arbitragem não ajuda nada à credibilização deste sector. Dá a ideia de ser tudo feito em circuito fechado e não poder passar nada cá para fora, como certas sociedades secretas.

Ora, tendo em conta que sempre que há eleições para a liga ou federação observa-se sempre uma luta de galos (relembrem-se da conversa de Vieira acerca dos lugares na Liga), na qual determinados clubes querem lá por os seus e que a arbitragem já esteve na Liga e agora está na federação… tirem as vossas próprias conclusões.

- Árbitros que chegam a internacionais sem se saber bem como.
  Exemplo: Bruno Paixão, considerado por toda a comunicação social especializada como não tendo perfil para a função. Foi internacional durante anos a fio, mesmo que a UEFA só lhe atribuísse jogos menos mediáticos, como eliminatórias iniciais da Champions e Liga Europa ou da antiga Intertoto, envolvendo equipas de 4º ou 5º plano.

- Escutas divulgadas no Youtube, que sendo consideradas inválidas em termos jurídicos – por motivos meramente formais – permitem descortinar facilmente, até para uma criança de 7 anos, actos de corrupção sobre agentes desportivos.

Os culpados não só não foram condenados, como muitos deles continuam por aí, com cargos de grande relevância no panorama futebolístico português.

- Jogos fora de equipas que estão a lutar pelo título disputados em cidades distantes das do adversários. Aconteceu em 2005, com o Estoril (de José Veiga, igualmente com responsabilidades no Benfica, seu adversário nesse jogo) e tornou a acontecer já este ano com o Arouca e o mesmo adversário. Curiosamente a alegada zanga entre clube e autarquia só afectou esse jogo e outro da última jornada, já que este ano o clube arouquense tem disputado os jogos no seu estádio, que até tinha sido remodelado o ano passado para receber desafios do escalão principal. De referir que tanto o estádio Algarve como o de Aveiro são campos de características diferentes daqueles onde jogam habitualmente Estoril e Arouca, isto sem contar com o facto de irem jogar longe da sua base de apoio (que já não é muito significativa, diga-se de passagem).

É algo que deve ser urgentemente regulamentado (não será já?) e tratado com pulso firme por parte das entidades, sob pena de se repetir já este ano.

A propósito, tenho vaga ideia do Trofense ter sido impedido pelos regulamentos de disputar um jogo em casa contra o V. Guimarães na Póvoa do Varzim, quando os dois clubes militavam no segundo escalão e conforme era pretendido pela direcção deste clube. Foi em 2007, portanto entre o célebre jogo do Algarve e o deste ano em Aveiro. Mudarão as regras conforme os clubes?

- Treinadores que desautorizam polícias à frente das câmaras de televisão e passam quase impunes.

- Treinadores que saem constantemente da sua área reservada e que até se dão ao luxo de se aproximar do guarda-redes pedindo-lhe que simule lesões. Há por aí um vídeo que prova essa situação, que todo o país pode observar e mais uma vez passou impune.

- Castigos que se arrastam até às interrupções de Natal ou do Verão, quando não havendo jogos, acabam por não ter efeitos práticos. O contrário também já aconteceu, quando aplicados nas vésperas de jogos importantes para certos clubes (Jardel em 2003, falhou um jogo contra o Benfica por alegadamente ter feito publicidade à Reebock – patrocinadora oficial do seu clube, o Sporting – uns bons meses antes, quando festejava um golo.)

- Árbitros que fazem greve a jogos de APENAS uma equipa, por declarações que infelizmente são do mais comum possível.

- Um dirigente que após levar processos judiciais do ex-clube (ao qual anteriormente se tinha apresentado como vencedor e arauto da credibilidade) entra para a Liga apoiado pelos rivais.

Entre outras situações que ocorreram neste belo país.

Admito a ínfima possibilidade de um ou outro ponto destes ter sido minimamente inocente (o que não acredito), mas acho que qualquer pessoa com bom senso ao deparar-se com estas situações todas em catadupa percebe que, como diz o povo, isto cheira a esturro por todos os lados.


Peço desculpa pela extensão, mas são este tipo de casos que devem ser recordados incessantemente, porque é isto tudo que torna o futebol nacional cada vez mais um caso a merecer a intervenção das autoridades.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Jogo Furado - Apresentação

Olá a todos.

Como é sabido, o fenómeno do futebol é algo transversal a toda a sociedade portuguesa. Por tudo quanto é lado, ouvem-se referências ao que se passa dentro do campo, desde as opiniões técnico-tácticas ditadas por um qualquer treinador de bancada, às normais picardias entre adeptos dos clubes, sendo certo que praticamente toda a gente tem opinião formada sobre qualquer acontecimento relacionado, algo que é inclusivamente fomentado pelo amplo acompanhamento dado pelos mass media.

Em simultâneo, é também um sector onde se movimenta muito dinheiro, desde as milionárias transferências, aos tão famosos investidores e fundos de investimento, que muitas vezes ninguém sabe quem são mas cuja influência é por demais evidente. O chamado “jogo maravilhoso” há muito que deixou de ser visto como mera forma de entretenimento, hoje em dia criam-se fortunas e hegemonias à custa da paixão e da militância dos adeptos.

Por tudo isto, fica evidente que o futebol e tudo o que o rodeia – tal como toda a actividade desportiva em geral – deve ser bem regulamentado e tutelado, para que não haja pontas soltas e o que aconteça dentro das quatro linhas não dê azo à suspeição. Tal como diz o velho ditado, “à mulher de César não basta ser séria, é preciso parecer

É firme convicção do autor deste blog que a honra, a transparência e a integridade são valores inalienáveis a todos os titulares de cargos de gestão e de jurisdição desportiva, neste caso concreto. No entanto, os indícios que têm sido tornados públicos revelam que estes conceitos estão a ser, de um modo geral, arredados do meio futebolístico nacional, situação que leva à crescente descredibilização do jogo e ao afastamento do público, que deveria ser a sua base.

Tendo em conta a situação lamentável do futebol em Portugal, nasce aqui o Jogo Furado, que pretende ser um espaço de denúncia à manipulação e à viciação da verdade desportiva que começa nos bastidores e que tende a ser observada em todos os estádios deste país onde o desporto se pratica a nível profissional.

Tendencialmente, algo que é furado é algo disfuncional, que não cumpre o papel para o qual foi concebido. O futebol português está furado, pois nele está implementado um sistema que não permite que a discussão em torno dele se cinja ao que se passa dentro das quatro linhas. Em analogia, está aberto um buraco enorme, onde entra tudo o que é parasitagem, contaminando e matando tudo aquilo que deveria ser a essência do futebol, desde a paixão ao desportivismo.
Imagine o leitor como seria jogar futebol com uma bola furada. Pois, não seria a mesma coisa, uma vez que seria impossível virem ao de cima todas as capacidades técnicas do jogador. Os jogos seriam decididos por factores marginais, como a sorte, a força, entre outras, tal como acontece actualmente no futebol português, onde os resultados, seja por questões relacionadas com a arbitragem ou com todo o tipo de jogadas de bastidores, geram as maiores discórdias e suspeições, ferindo de morte a credibilidade do espectáculo.

Espero, portanto, que este espaço contribua para o remendo do jogo,e que o futebol em Portugal volte a ser algo apaixonante e não o contrário.