No passado fim-de-semana, o futebol português foi
confrontado com mais uma situação grave, que voltou a colocar em causa a sua credibilidade.
Como é sabido, o Belenenses deslocou-se ao estádio da Luz e,
durante a semana, foi badalada a possibilidade dos dois principais jogadores da
equipa do Restelo – Miguel Rosa e Deyverson – poderem falhar a partida por
influência do antigo clube, adversário naquela jornada. De referir que os dois jogadores alegadamente
já não terão qualquer ligação ao clube em questão, excepção feita a um mero “direito
de preferência”. No entanto, a suspeita tinha razão de ser, uma vez que já na
temporada transacta eles tinham sido impedidos de alinhar devido a um acordo de
“cavalheiros” (as aspas na palavra cavalheiros
não são gralha), daqueles que não são contratualizados por serem contra os
regulamentos, mas são feitos por debaixo da mesa e, pelos vistos, contam.
Na
altura, o então treinador azul Marco Paulo aludiu a “questões administrativas”
na base da situação.
Durante a semana, treinaram normalmente, não tendo sido
incluídos em nenhum boletim clínico. No dia do jogo, integraram a comitiva que
se deslocou ao estádio. Porém, pouco antes do apito inicial, surgiu a notícia
já esperada… os jogadores, titulares absolutos e obreiros da esmagadora maioria
dos golos da sua equipa no campeonato – valeram, relembre-se, um empate em
Alvalade – não constavam do 11 inicial nem tampouco se sentavam no banco.
Por mais rebuscadas que sejam as desculpas do accionista
maioritário do Belenenses, Rui Pedro Soares (que merecerão post à parte), a
verdade é que ninguém com dois palmos de testa acredita que a exclusão terá
partido única e exclusivamente do clube ao qual estão vinculados. Porque tal
não faria sentido, porque se os protagonistas confessassem, abririam portas a
que houvesse efectivamente penalizações.
Assim será tudo empurrado para debaixo do tapete, sendo mais
que espectável que a liga de Duque se demita das responsabilidades, numa
situação originada por um dos maiores promotores da sua existência.
Mais uma golpada na tão clamada verdade desportiva (LF
Vieira, lembras-te?), mais um atentado ao futebol e mais uma prova de que, por
cá, os jogos de futebol não se ganham apenas em campo.
E digo mais uma, porque situações dúbias envolvendo clubes e
agentes desportivos é algo que não têm faltado nos últimos anos . Só assim de
memória, deixo aqui alguns exemplos, que todos juntos, estão por detrás da
criação deste blog:
- Um ror de situações em que jogadores emprestados se
constipam ou se lesionam misteriosamente no dia ou dias antes de defrontarem os
clubes aos quais estão vinculados.
Exemplo: Abdoulaye.
Aqui, pior que não assumir, é enganar tudo e todos,
tomando-nos por parvos.
- Arbitragens que, semana após semana, são sempre favoráveis
aos mesmos clubes, incluindo critérios diferentes em lances de natureza
semelhante, conforme as equipas. Exemplo aqui é aquilo que tem acontecido ao
actual líder do campeonato, em lances de fora-de-jogo, cujo critério é
claramente em seu benefício e prejuízo dos adversários. OK, eu sei que são árbitros
diferentes, mas mesmo assim são demasiados erros a favor da mesma equipa, em
jogos consecutivos e ainda só estamos em Dezembro.
De notar que o facto dos relatórios dos observadores não
serem públicos e de não se saber ao certo quais os critérios, normas e procedimentos
que vigoram nas cúpulas da arbitragem não ajuda nada à credibilização deste
sector. Dá a ideia de ser tudo feito em circuito fechado e não poder passar
nada cá para fora, como certas sociedades secretas.
Ora, tendo em conta que sempre que há eleições para a liga
ou federação observa-se sempre uma luta de galos (relembrem-se da conversa de
Vieira acerca dos lugares na Liga), na qual determinados clubes querem lá por
os seus e que a arbitragem já esteve na Liga e agora está na federação… tirem
as vossas próprias conclusões.
- Árbitros que chegam a internacionais sem se saber bem
como.
Exemplo: Bruno Paixão, considerado por toda a comunicação social especializada
como não tendo perfil para a função. Foi internacional durante anos a fio,
mesmo que a UEFA só lhe atribuísse jogos menos mediáticos, como eliminatórias
iniciais da Champions e Liga Europa ou da antiga Intertoto, envolvendo equipas
de 4º ou 5º plano.
- Escutas divulgadas no Youtube, que sendo consideradas
inválidas em termos jurídicos – por motivos meramente formais – permitem descortinar
facilmente, até para uma criança de 7 anos, actos de corrupção sobre agentes
desportivos.
Os culpados não só não foram condenados, como muitos deles
continuam por aí, com cargos de grande relevância no panorama futebolístico português.
- Jogos fora de equipas que estão a lutar pelo título
disputados em cidades distantes das do adversários. Aconteceu em 2005, com o
Estoril (de José Veiga, igualmente com responsabilidades no Benfica, seu
adversário nesse jogo) e tornou a acontecer já este ano com o Arouca e o mesmo
adversário. Curiosamente a alegada zanga entre clube e autarquia só afectou
esse jogo e outro da última jornada, já que este ano o clube arouquense tem
disputado os jogos no seu estádio, que até tinha sido remodelado o ano passado
para receber desafios do escalão principal. De referir que tanto o estádio Algarve
como o de Aveiro são campos de características diferentes daqueles onde jogam habitualmente
Estoril e Arouca, isto sem contar com o facto de irem jogar longe da sua base
de apoio (que já não é muito significativa, diga-se de passagem).
É algo que deve ser urgentemente regulamentado (não será
já?) e tratado com pulso firme por parte das entidades, sob pena de se repetir
já este ano.
A propósito, tenho vaga ideia do Trofense ter sido impedido
pelos regulamentos de disputar um jogo em casa contra o V. Guimarães na Póvoa
do Varzim, quando os dois clubes militavam no segundo escalão e conforme era
pretendido pela direcção deste clube. Foi em 2007, portanto entre o célebre
jogo do Algarve e o deste ano em Aveiro. Mudarão as regras conforme os clubes?
- Treinadores que desautorizam polícias à frente das câmaras
de televisão e passam quase impunes.
- Treinadores que saem constantemente da sua área reservada
e que até se dão ao luxo de se aproximar do guarda-redes pedindo-lhe que simule
lesões. Há por aí um vídeo que prova essa situação, que todo o país pode
observar e mais uma vez passou impune.
- Castigos que se arrastam até às interrupções de Natal ou
do Verão, quando não havendo jogos, acabam por não ter efeitos práticos. O
contrário também já aconteceu, quando aplicados nas vésperas de jogos
importantes para certos clubes (Jardel em 2003, falhou um jogo contra o Benfica
por alegadamente ter feito publicidade à Reebock – patrocinadora oficial do seu
clube, o Sporting – uns bons meses antes, quando festejava um golo.)
- Árbitros que fazem greve a jogos de APENAS uma equipa, por
declarações que infelizmente são do mais comum possível.
- Um dirigente que após levar processos judiciais do
ex-clube (ao qual anteriormente se tinha apresentado como vencedor e arauto da
credibilidade) entra para a Liga apoiado pelos rivais.
Entre outras situações que ocorreram neste belo país.
Admito a ínfima possibilidade de um ou outro ponto destes
ter sido minimamente inocente (o que não acredito), mas acho que qualquer
pessoa com bom senso ao deparar-se com estas situações todas em catadupa
percebe que, como diz o povo, isto cheira a esturro por todos os lados.
Peço desculpa pela extensão, mas são este tipo de casos que devem ser recordados incessantemente, porque é isto tudo que torna o
futebol nacional cada vez mais um caso a merecer a intervenção das autoridades.
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