terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Os Furos do Jogo

No passado fim-de-semana, o futebol português foi confrontado com mais uma situação grave, que voltou a colocar em causa a sua credibilidade.

Como é sabido, o Belenenses deslocou-se ao estádio da Luz e, durante a semana, foi badalada a possibilidade dos dois principais jogadores da equipa do Restelo – Miguel Rosa e Deyverson – poderem falhar a partida por influência do antigo clube, adversário naquela jornada.  De referir que os dois jogadores alegadamente já não terão qualquer ligação ao clube em questão, excepção feita a um mero “direito de preferência”. No entanto, a suspeita tinha razão de ser, uma vez que já na temporada transacta eles tinham sido impedidos de alinhar devido a um acordo de “cavalheiros” (as aspas na palavra cavalheiros não são gralha), daqueles que não são contratualizados por serem contra os regulamentos, mas são feitos por debaixo da mesa e, pelos vistos, contam. 
Na altura, o então treinador azul Marco Paulo aludiu a “questões administrativas” na base da situação.

Durante a semana, treinaram normalmente, não tendo sido incluídos em nenhum boletim clínico. No dia do jogo, integraram a comitiva que se deslocou ao estádio. Porém, pouco antes do apito inicial, surgiu a notícia já esperada… os jogadores, titulares absolutos e obreiros da esmagadora maioria dos golos da sua equipa no campeonato – valeram, relembre-se, um empate em Alvalade – não constavam do 11 inicial nem tampouco se sentavam no banco.

Por mais rebuscadas que sejam as desculpas do accionista maioritário do Belenenses, Rui Pedro Soares (que merecerão post à parte), a verdade é que ninguém com dois palmos de testa acredita que a exclusão terá partido única e exclusivamente do clube ao qual estão vinculados. Porque tal não faria sentido, porque se os protagonistas confessassem, abririam portas a que houvesse efectivamente penalizações.

Assim será tudo empurrado para debaixo do tapete, sendo mais que espectável que a liga de Duque se demita das responsabilidades, numa situação originada por um dos maiores promotores da sua existência.

Mais uma golpada na tão clamada verdade desportiva (LF Vieira, lembras-te?), mais um atentado ao futebol e mais uma prova de que, por cá, os jogos de futebol não se ganham apenas em campo.
E digo mais uma, porque situações dúbias envolvendo clubes e agentes desportivos é algo que não têm faltado nos últimos anos . Só assim de memória, deixo aqui alguns exemplos, que todos juntos, estão por detrás da criação deste blog:

- Um ror de situações em que jogadores emprestados se constipam ou se lesionam misteriosamente no dia ou dias antes de defrontarem os clubes aos quais estão vinculados. 
 Exemplo: Abdoulaye.

Aqui, pior que não assumir, é enganar tudo e todos, tomando-nos por parvos.

- Arbitragens que, semana após semana, são sempre favoráveis aos mesmos clubes, incluindo critérios diferentes em lances de natureza semelhante, conforme as equipas. Exemplo aqui é aquilo que tem acontecido ao actual líder do campeonato, em lances de fora-de-jogo, cujo critério é claramente em seu benefício e prejuízo dos adversários. OK, eu sei que são árbitros diferentes, mas mesmo assim são demasiados erros a favor da mesma equipa, em jogos consecutivos e ainda só estamos em Dezembro.

De notar que o facto dos relatórios dos observadores não serem públicos e de não se saber ao certo quais os critérios, normas e procedimentos que vigoram nas cúpulas da arbitragem não ajuda nada à credibilização deste sector. Dá a ideia de ser tudo feito em circuito fechado e não poder passar nada cá para fora, como certas sociedades secretas.

Ora, tendo em conta que sempre que há eleições para a liga ou federação observa-se sempre uma luta de galos (relembrem-se da conversa de Vieira acerca dos lugares na Liga), na qual determinados clubes querem lá por os seus e que a arbitragem já esteve na Liga e agora está na federação… tirem as vossas próprias conclusões.

- Árbitros que chegam a internacionais sem se saber bem como.
  Exemplo: Bruno Paixão, considerado por toda a comunicação social especializada como não tendo perfil para a função. Foi internacional durante anos a fio, mesmo que a UEFA só lhe atribuísse jogos menos mediáticos, como eliminatórias iniciais da Champions e Liga Europa ou da antiga Intertoto, envolvendo equipas de 4º ou 5º plano.

- Escutas divulgadas no Youtube, que sendo consideradas inválidas em termos jurídicos – por motivos meramente formais – permitem descortinar facilmente, até para uma criança de 7 anos, actos de corrupção sobre agentes desportivos.

Os culpados não só não foram condenados, como muitos deles continuam por aí, com cargos de grande relevância no panorama futebolístico português.

- Jogos fora de equipas que estão a lutar pelo título disputados em cidades distantes das do adversários. Aconteceu em 2005, com o Estoril (de José Veiga, igualmente com responsabilidades no Benfica, seu adversário nesse jogo) e tornou a acontecer já este ano com o Arouca e o mesmo adversário. Curiosamente a alegada zanga entre clube e autarquia só afectou esse jogo e outro da última jornada, já que este ano o clube arouquense tem disputado os jogos no seu estádio, que até tinha sido remodelado o ano passado para receber desafios do escalão principal. De referir que tanto o estádio Algarve como o de Aveiro são campos de características diferentes daqueles onde jogam habitualmente Estoril e Arouca, isto sem contar com o facto de irem jogar longe da sua base de apoio (que já não é muito significativa, diga-se de passagem).

É algo que deve ser urgentemente regulamentado (não será já?) e tratado com pulso firme por parte das entidades, sob pena de se repetir já este ano.

A propósito, tenho vaga ideia do Trofense ter sido impedido pelos regulamentos de disputar um jogo em casa contra o V. Guimarães na Póvoa do Varzim, quando os dois clubes militavam no segundo escalão e conforme era pretendido pela direcção deste clube. Foi em 2007, portanto entre o célebre jogo do Algarve e o deste ano em Aveiro. Mudarão as regras conforme os clubes?

- Treinadores que desautorizam polícias à frente das câmaras de televisão e passam quase impunes.

- Treinadores que saem constantemente da sua área reservada e que até se dão ao luxo de se aproximar do guarda-redes pedindo-lhe que simule lesões. Há por aí um vídeo que prova essa situação, que todo o país pode observar e mais uma vez passou impune.

- Castigos que se arrastam até às interrupções de Natal ou do Verão, quando não havendo jogos, acabam por não ter efeitos práticos. O contrário também já aconteceu, quando aplicados nas vésperas de jogos importantes para certos clubes (Jardel em 2003, falhou um jogo contra o Benfica por alegadamente ter feito publicidade à Reebock – patrocinadora oficial do seu clube, o Sporting – uns bons meses antes, quando festejava um golo.)

- Árbitros que fazem greve a jogos de APENAS uma equipa, por declarações que infelizmente são do mais comum possível.

- Um dirigente que após levar processos judiciais do ex-clube (ao qual anteriormente se tinha apresentado como vencedor e arauto da credibilidade) entra para a Liga apoiado pelos rivais.

Entre outras situações que ocorreram neste belo país.

Admito a ínfima possibilidade de um ou outro ponto destes ter sido minimamente inocente (o que não acredito), mas acho que qualquer pessoa com bom senso ao deparar-se com estas situações todas em catadupa percebe que, como diz o povo, isto cheira a esturro por todos os lados.


Peço desculpa pela extensão, mas são este tipo de casos que devem ser recordados incessantemente, porque é isto tudo que torna o futebol nacional cada vez mais um caso a merecer a intervenção das autoridades.

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